Por João Lucas Pantoja de Souza
Não é a primeira vez que jovens são vítimas em função da orientação sexual, segundo a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS), são 32 mortes por dia. Em novembro de 2016, mais um caso entrou para estatística, um jovem da cidade de João Lisboa cometeu suicídio após sofrer inúmeras agressões por parte de seus colegas de escola e acabou tirando sua própria vida.
Em artigo elaborado pelo psicólogo, pesquisador e professor adjunto na UFMA-Imperatriz Fabio Jose Cardias Gomes junto às professoras assistentes da UFMA Antônia Iracilda Silva Viana e Claudia Regina Arrais Rosa, é busca-se iniciar uma discussão sobre o bullying juvenil e suas consequências devastadoras.
Bullying Homofóbico se caracteriza como todo e qualquer ato de agressão repetitiva do agressor em relação à vítima que se baseia nos trejeitos e insultos relacionados com a orientação sexual, fato que está mais presente no jovem do sexo masculino.
Confira a seguir, a entrevista e muito mais sobre o assunto.
Ciência Ufma – Conte-nos um pouco mais sobre o seu artigo “suicídio em Bom Lugar bullying homofóbico juvenil na zona rural Maranhense” publicado em 2017 junto com as professoras assistentes da UFMA Antônia Iracilda Silva Viana e Claudia Regina Arrais Rosa.
Fábio Cardias – O caso foi acompanhado pela psicóloga Antônia Iracilda Silva Viana. Ela coletou informações, dados com a mãe do jovem, na escola. Ela nos apresentou estes dados para discussão em grupo e da necessidade de transformá-lo em artigo, devido à urgência e complexidade do caso. A enfermeira Claudia Regina Arrais Rosa deu importantes colaborações. O artigo denuncia a falta de apoio estudantil, a falta de psicólogos na rede de ensino e o descaso com a ameaça de bullying escolar e homofóbico, e deste levar ao suicídio.
Além da escassez na literatura acadêmica sobre suicídio na adolescência comentada no texto, quais outros motivos levaram o senhor e o seu grupo de pesquisa a escrever sobre o assunto?
A preocupação com a situação ocorrida, que pode se repetir, bem como a desassistência psicológica no ensino fundamental e médio. Há um só psicólogo para a rede de ensino municipal. Quando deveria haver um psicólogo por escola, no mínimo.
Que estratégias foram utilizadas para o contato inicial com os familiares do jovem e os profissionais da escola? Quais dificuldades foram presenciadas?
Houve o contato com a escola, depois a visitação à mãe, na casa do jovem que se suicidou. As maiores dificuldades foram de coletar os dados com maior profundidade e sistematização. A preocupação inicial foi de espanto e indignação com um caso interiorano, o despreparo de educadores em lidar com bullying homofóbico.
Qual foi o tempo total levado desde o início da pesquisa até a publicação do artigo?
Este artigo surgiu de um caso trágico que se tornou oportuno de se discutir em texto. Entre a coleta de dados, discussões, dúvidas de trazer o caso à público, redação, procura de revista, oportunidade do dossiê temático, submissão, correções, somam um total de 2 anos.
Em um parágrafo do artigo é dito “Sabe-se que a adolescência é um processo cheio de idas e vindas, de ambivalências” (p.9). Poderia falar um pouco mais sobre esse trecho?
Sim, baseado em autores da psicologia do desenvolvimento, como Henri Wallon, especialmente, a ambivalência da adolescência está entre sentimentos, valores, afetos, ideações, pensamentos de uma pessoa que não saiu totalmente ainda da infância, deixando a fase de criança, e ainda não adentrou totalmente ao mundo adulto, iniciando a fase adulta, transformações corporais, desenvolvimento sexual. Idas e vindas nesse sentido, ora regride à fase infantil, ora assume o projeto adulto.
Um jovem que sofre bullying com recorrência e sem nenhum tipo de amparo acaba indo ao seu limite e se suicida. Pode-se afirmar que em casos como esse, necessariamente, o indivíduo sofre algum tipo de depressão?
Não, não é verdade que só se suicida quem tem depressão. Pode se desenvolver um transtorno depressivo, um quadro de depressão, mas quem se suicida de não necessariamente se encontra em depressão, se encontra em sofrimento existencial. Sofrer faz parte da vida, há a necessidade de enfrentarmos os sofrimentos, com apoio familiar, social.
O jovem adolescente causador do ato de bullying, levando em consideração que o mesmo está em processo de busca por sua identidade, fica totalmente ausente da culpa?
Não. Mas depende de como se entende culpa, prefiro falar em se ver responsável, responder pelo que fez independente da sua fase de desenvolvimento, pois pratica algo errado, ruim ao outro, perverso. Mas devido à complexidade da situação é necessário escutar também o que praticou o bullying, seus motivos, sua visão e conversar, orientar, punir de forma a repensar o que pratica.
Como profissional da área de psicologia, o que o senhor recomenda para evitarmos futuros artigos como este?
Futuros artigos como este não devem ser evitados porque elucidam e trazem a públicos casos que muitas vezes nem chagaremos, a saber, e pensar sobre. Porque casos como esse acontecem. A preocupação deve ser em prevenirmos o bullying, em suas diversas modalidades, nas escolas, e para isso a presença de psicólogos e assistentes sociais na escola deveria ser obrigatório, ao menos dois por escola. O que vem sendo discutido como projeto de lei pelo Congresso Nacional, a 13 anos, de que toda escola de ensino básico (deveria incluir o ensino médio, especialmente) tenha psicólogos e assistentes sociais. No dia 13 de junho de 2017, a proposta foi discutida em audiência pública pela Comissão de Educação da Câmara Nacional.
Link do Artigo: https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/45118/23886