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Pesquisa social aponta que moradores do bairro Bom Jesus são marginalizados na cidade

Por Beatriz Farias

São 342 residências, dentre estas, 40 foram adaptadas para o comércio. Não há praças e nenhum outro tipo de lugar público para lazer. As crianças brincam nas ruas, abaixo de um sol quente, com a pipa na mão e um calor que o imperatrizense conhece bem. A descrição é do bairro Bom Jesus, um lugar que possui um pouco mais de dois anos e formação e já se tornou objeto da pesquisa realizada pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Cidades e Imagens (LAEPCI), coordenado pelo professor de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus Centro, Jesus Marmanillo.

Comunidade sequer conhecia os cursos ofertados pela universidade, sua vizinha

A pesquisa consiste em um estudo específico sobre a comunidade no conjunto habitacional Dom Affonso Felipe Gregory localizado no bairro Bom Jesus na cidade de Imperatriz. Este conjunto está localizado na área periférica da cidade, próximo a UFMA, campus Bom Jesus. O estudo buscou analisar as relações de estigma nas situações de interação compostas por estudantes e moradores. Para isso foi feito o mapeamento dos principais grupos que interagiam no local, além de caracterizar as composições sociais existentes, por meio de observações indiretas (fotografias) e diretas (entrevistas e formulários). “A ideia principal era saber como é que o bairro consegue criar uma imagem estigmatizada, negativa, perante outros setores da sociedade. A nossa preocupação principal era relacionada à própria universidade e aos outros bairros da cidade”, explicou Marmanillo.

A pesquisa constatou que o condomínio sofre de vários problemas de infraestrutura, vastamente registrados pelos pesquisadores. Os problemas encontrados foram de várias ordens, como a rápida deterioração das ruas devido a baixa qualidade do asfalto. Além da falta de rede de esgotamento sanitário e lançamento de água servida nas ruas. De acordo com o coordenador do projeto, esses foram os principais problemas que evidenciaram o abandono da comunidade pela administração pública. Outro ponto identificado na pesquisa foi a distância entre o campus da UFMA e a comunidade. Sendo que, a maioria das pessoas não sabem que no campus existe o curso de enfermagem, que prepara os acadêmicos para trabalhar em comunidades.

 

Com a pesquisa ancorada na etnografia, método de estudo utilizado com o intuito de descrever os costumes e as tradições de um grupo humano, foi possível constatar por meio de um levantamento de perfil da população do bairro, que o principal problema do lugar é o estigma e a periferização. Para entender essas questões, os métodos de observação direta e a inserção em campo foram realizadas foram fundamentais para a concretização da pesquisa. “Trabalhar com as impressões dessas pessoas foi essencial para a criação de laços de confiança”, explicou Jesus Marmanillo.

O professor explica que a comunidade pode ser definida como um aglomerado de pessoas que vieram de fora. “Eles não têm um laço. Esse é um dos fatores que está ligado a questão da atuação da associação dos moradores, que não consegue ter uma representatividade total. Vai conseguir ter, com o tempo, porque o conjunto habitacional ainda está em processo de consolidação”. Por meio dos questionários aplicados com os moradores foi identificado que as questões socioeconômicas afetam a vivência da população. Cerca de 58% ganham um salário mínimo, 36% recebem menos que isso, 16% reclamam da pavimentação, 15% apontam a falta de posto de saúde e 11% questionam o motivo de não ter escola no bairro.

O coordenador do projeto comenta que ainda não soube de uma pesquisa que tratasse sobre reflexões urbanas em Imperatriz, por isso, reitera a importância de seu projeto. “Nunca ninguém me demandou estudar isso, foi uma iniciativa do grupo. Realizar um estudo de bairro periférico como esse é fundamental para pesarmos no processo de expansão e crescimento da cidade, além da localização dos bairros”, disse.

Marmanillo diz que estudos na cidade ajudam, no futuro, pensar ações sociais

“É um estudo para o futuro. É pensar em como vai ser a expansão dali em diante, em termos de planejamento urbano. Nos faz pensar também em política de infância e juventude, pois é um lugar que não possui praças. A ausência de políticas públicas está diretamente ligada ao aumento do índice de violência, que é o que realmente acontece. Para diminuir a violência tem que investir na juventude”, disse Marmanillo. O pesquisador ainda revelou que o único espaço público do bairro é o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), responsável em realizar assistência social para a comunidade.

Segundo Marmanillo, o verdadeiro ouro da pesquisa foi “tentar compreender as relações de vizinhança no bairro”, segundo ele, foi o fator mais pertinente de todo o estudo realizado. “A associação de moradores, por exemplo, tem dificuldades de se articular com o bairro, por conta do bairro ser novo e muito populoso. E esse exercício é fundamental em termos de cidadania, e de lutar pelos direitos do próprio bairro. Essa falta de associativismo e relação de vizinhança, implica de maneira negativa nas reivindicações. Só pelo exercício associativo a pessoa aprende a reivindicar no bairro e a exercer cidadania ali. Desta forma, o morador não vai entender a melhoria do bairro como um favor político, mas sim, como uma reivindicação coletiva”, diz. Após a realização da pesquisa, o professor e os outros dois pesquisadores que estiveram presentes na produção do estudo saíram com novas impressões não só do bairro, mas sim da própria cidade. “Não sabia de nada e vi tudo”, finalizou Jesus Marmanillo.

O LAEPCI

O Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre cidades e imagens (LAEPCI) é um espaço que busca estimular e promover pesquisas, por meio de interpretações cientificas sobre a temática urbana, a partir das concepções teórico metodológicas baseada nas áreas da História, Sociologia e Antropologias urbanas, visuais e da imagem. O LAEPCI consiste num lugar voltado para a problematização do significado de urbano, experimentação e desenvolvimento de métodos visuais que colaborem com esse processo, e de promoção de oficinas e projetos de pesquisa, com o objetivo de aperfeiçoar o discente, a produção científica e fornecer interpretações científicas sobre a realidade local. O laboratório está localizado na UFMA Campus Centro, 2° andar.

Acesse: http://www.laepci.ufma.br/

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