in

Artigo discute aproximação entre informação e entretenimento nos telejornais

Por Nandara Melo

Com a diversidade e praticidade dos meios de obtenção de informação contemporaneamente, os telejornais perderam audiência. Como estratégia de aproximação do público, as notícias e a forma de interação jornalística deixaram de ser meramente informativas e passaram a mesclar características do entretenimento, como já acontecia com os conteúdos disponibilizados nas plataformas digitais, sobretudo pela internet.

O artigo que foi utilizado como alicerce para que se pudesse compreender este atual cenário do Telejornalismo brasileiro, tem por tema: “Quando a informação (con)funde – se com entretenimento: a hibridização de gêneros no telejornal”. Ele foi elaborado por Vitor Curvelo Fontes Belém que é professor do curso de jornalismo da UFMA (Universidade Federal Do Maranhão) e apresentado no evento Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) no ano de 2015, na cidade do Rio de Janeiro.

Confira a seguir, a entrevista completa e muito mais sobre o assunto.

O que o levou a desenvolver uma análise sobre a junção dos gêneros nos telejornais?

Vitor Curvelo Fontes Belém: A gente discute muito isso academicamente, pensando como algo exato. Os gêneros podem ser informativo, interpretativo, opinativo, por aí vai… Só que quando se observa isso no telejornalismo, fica muito claro que os gêneros (são os “modelos de apropriação e de interpretação da realidade usados pelos jornalistas”. Correspondem aos diferentes tipos de texto e abordagem que vemos nos media: notícias, crônicas, reportagens, entrevistas e etc.) não tem um limite conceitual exato. Então, muitas vezes eles se misturam ou estão juntos em algum momento. No telejornalismo é muito difícil identificar um gênero puro, se é que existe. Todos eles são tencionados a todo o momento, assim como os formatos.

Em nível de sociedade, qual a importância dessas ponderações?

VB: Para entender o perfil do telejornal. Na verdade é essencialmente um produto informativo, mas a questão é que dentro dele abarcam-se também outros gêneros. Há conteúdos interpretativos quando a gente pensa nas grandes reportagens, há conteúdo diversional (corresponde a um estilo onde o texto jornalístico se junta à literatura, com o intuito de produzir reportagens mais profundas, detalhistas e amplas, de forma a apresentar uma visão humanizada e ética), então é uma tendência a pensar como é o telejornal hoje, pensar sobre os novos formatos de linguagem nas reportagens, para se pensar em um público que não quer apenas se informar, mas se entreter. Academicamente falando é importante refletir sobre os gêneros dentro do telejornal, para que se tenha uma compreensão mais exata de como isso se coloca efetivamente na prática. Ao assistir o telejornal tudo parece ser muito condicionado automaticamente, então precisa se ter uma reflexão mais crítica sobre o que é o que em cada situação.

O infotenimento (informação + entretenimento) em grande escala pode representar uma espécie de infantilização do telespectador?

VB: Difícil quantificar, mas os excessos se evidenciam de várias formas. Pode representar uma infantilização, mas não necessariamente. Obviamente há alguns produtos que tendenciam a trabalhar isso de uma forma mais intensa do que outros. Vamos fazer um contraponto: há pesquisadores como Alfredo Vizeu, por exemplo, que ressaltam a função pedagógica do telejornal, então até que ponto, ao noticiar fatos, se pode facilitar a compreensão do acontecimentos para a sociedade ou infantilizar a construção textual para esse fim? A mesma dinâmica pode ser observada nesse contexto de aproximação entre informação e entretenimento. Há que se problematizar caso a caso,  pois são “limites” difíceis de estabelecer.

Ele pode gerar certo afastamento na pragmática jornalística, que é trazer temáticas que venham está de acordo com o interesse público?

VB: Não tenho dúvidas! A gente está pensando nessa discussão do infotenimento em um momento, que eu considero como o de crise da imprensa. No contexto da  televisão, especificamente, um meio que busca se equilibrar em meio a um processo de convergência cada vez mais forte e acirramento da concorrência, essas mudanças vão se intensificando, mudando as formas de se fazer jornalismo. No âmbito do infotenimento, o interesse público concorre com o interesse do público nas definições sobre relatar ou não um fato, bem como a forma como executar essa tarefa. A questão é a forma de abordagem da notícia. Então a notícia pode ter mais liberdade no uso de adjetivos, na construção e valorização do personagem, na valorização de recursos visuais, há mais “adereços” a se pensar nessa construção jornalística, etc. O interesse público ainda é um grande limiar entre as produções jornalísticas, mas isso vem se problematizando com as mudanças. É preciso também pensar que o infotenimento não se apresenta como um formato estabelecido; elencam-se  algumas características, que vão se adaptando a contextos diferentes, de formas diferentes. Vai ter momentos em que os telejornais vão se aproximar ou se distanciar dessas características.

Ao observar os telejornais de Imperatriz, você notou certo apelo para esse infotenimento ou é apenas uma características restrita aos telejornais das grandes metrópoles?

VB: Na verdade se tem uma facilidade muito maior das grandes cidades de repensarem as práticas jornalísticas, pelas condições técnicas e financeiras que têm. As produções locais que temos aqui em Imperatriz ou até mesmo em outras cidades do interior, essa mudança vai ser mais gradual. Se observa isso de forma mais evidente em telejornais de emissoras maiores, que estão investindo mais e pensando o que quer o telespectador, por mais difícil que isso seja de entender, mas há uma preocupação.

Você gosta da temática?

VB: Não é uma questão de gostar ou não. Quando eu comecei a pesquisar sobre o assunto, eu estranhava um pouco essa relação; entendia que era uma relação de extremos, opostos. Hoje eu percebo que, inevitavelmente, sem que se tenha o controle do que está sendo feito, as mudanças estão acontecendo. E não existe uma forma exata. Então, mais do que pensar se eu gosto ou não gosto, observo o que está sendo feito para tentar entender, até mesmo para explicar para os futuros profissionais o que é telejornal nesses novos contextos. É um modo de fazer telejornalismo que não está mais nos manuais. As mudanças estão acontecendo e vamos tentando compreendê-las. Obviamente tem vantagens e desvantagens.

Por que a informação transformou – se em matéria prima de um sistema?

VB: A matéria prima continua sendo a mesma, que é a informação, mas agora, ao ser convertida em notícias, absorve novos adereços: novas formas de construção textual, sonoras e visual.

A busca pela semelhança na maneira como se informa das plataformas digitais, não compromete a pragmática dos telejornais?

VB: Sim. Um exemplo muito clássico disso é o G1 em um minuto, para que possamos pensar nessa relação da televisão com as outras mídias e a importância que o entretenimento vem trazendo para a televisão. O G1 traz uma linguagem informal, mais até que os telejornais que já lidam com isso; traz uma linguagem jovem que vem da internet, a linguagem visual. Ou seja, a forma que eles se vestem, como eles se portam. Tudo isso está produzido pensando em um novo contexto, um novo público. Imagino que teremos mais tipos de produtos como esse dentro da televisão.

Em seu artigo você afirma que o maior desafio para os telejornais não consiste em recuperar a audiência, mas na manutenção da rotina do receptor, por quê?

VB: Não dá pensar em como a televisão vai recuperar a audiência; não é essa a lógica. A ideia que se tem agora é pensar o que esse público quer. Inevitavelmente o público de agora não tem uma relação de fidelidade como o de antes. O público é muito flutuante, ele está sempre migrando entre várias mídias. O desafio maior não está em não perder a audiência, mas em como atrair essa audiência que está o tempo todo conectada e dispersa.

Como a junção de gêneros contribui para a redefinição dos perfis editorias?

VB: Os telejornais estão hibridizando gêneros e nós estamos tentando entender.  Enquanto estamos tentando entender o mercado vai produzindo novas formas. Então quando você acha que está conseguindo dominar aquele conteúdo, vem uma novidade. É o ciclo da comunicação e os gêneros também estão projetados nesse sentido. Alguns perfis editoriais são mais resistentes à mudanças principalmente pelo perfil de quem está na bancada; outros acompanham mais essas modificações – mas isso vai muito do perfil de cada empresa e dos jornalistas responsáveis pela edição.

Link do artigo:  http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2648-1.pdf

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Parceria internacional avalia capacidade de inovação em empresas maranhenses

Socióloga explica o diálogo hermenêutico na era tecnológica